quarta-feira, 16 de março de 2011

Entre Aspas-E tudo mudou...



O rouge virou blush,


O pó-de-arroz virou pó-compacto,

O brilho virou gloss,

O rímel virou máscara incolor;



A Lycra virou stretch,

Anabela virou plataforma;



O corpete virou porta-seios …

Que virou sutiã …

Que virou lib …

Que virou silicone!



A peruca virou aplique … interlace … Megahair … Alongamento!



A escova virou chapinha,

'Problemas de moça' viraram TPM;



Confete virou MM;



A crise de nervos virou estresse,

A chita virou viscose,

A purpurina virou gliter,

A brilhantina virou mousse…



Os halteres viraram bomba,

A ergométrica virou spinning,

A tanga virou fio dental…



. . . E o fio dental virou anti-séptico bucal.



Ninguém mais vê:



Ping-Pong porque virou Bubaloo,

O à-la-carte porque virou self-service,



A tristeza agora é depressão,

O espaguete virou Miojo pronto,

A paquera virou pegação,

A gafieira virou dança de salão,



O que era praça virou shopping,

A areia virou ringue,

A caneta virou teclado,

O LP virou CD,



A fita de vídeo é DVD,

O CD já é MP3,

É um filho onde eram seis,

O álbum de fotos agora é mostrado por e-mail,



O namoro agora é virtual,

A cantada virou torpedo,

E do 'não' não se tem medo,

O break virou street,



O samba, pagode

O carnaval de rua virou Sapucaí,

O folclore brasileiro, halloween

O piano agora é teclado, também…



O forró de sanfona ficou eletrônico,

Fortificante não é mais Biotônico,

Polícia e ladrão virou counter strike,



Folhetins são novelas de TV,

Fauna e flora a desaparecer,

Lobato virou Paulo Coelho,

Caetano virou um pentelho,



Baby se converteu,

RPM desapareceu,

Elis ressuscitou em Maria Rita

Gal virou fênix,

Raul e Renato,

Cássia e Cazuza,

Lennon e Elvis,



Todos anjos

Agora só tocam lira…



A AIDS virou gripe,

A bala antes encontrada agora é perdida,

A violência está maldita!



A maconha é calmante,

O professor é agora o facilitador,

As lições já não importam mais,

A guerra superou a paz,

E a sociedade ficou incapaz…

… De tudo.

. . . Inclusive de notar essas diferenças.


Quer saber quem escreveu esse texto?
Luis Fernando Verissimo (Porto Alegre, 26 de setembro de 1936) é um escritor brasileiro. Mais conhecido por suas crônicas e textos de humor, mais precisamente de sátiras de costumes, publicados diariamente em vários jornais brasileiros, Verissimo é também cartunista e tradutor, além de roteirista de televisão, autor de teatro e romancista bissexto. Já foi publicitário e copy desk de jornal. É ainda músico, tendo tocado saxofone em alguns conjuntos. Com mais de 60 títulos publicados, é um dos mais populares escritores brasileiros contemporâneos. É filho do também escritor Erico Verissimo.

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