domingo, 20 de março de 2011

Falando de amor


“O amor é o ridículo da vida” disse Cazuza, uma vez. Apesar dos apesares, de vários mas e poréns, no final das contas, ele estava bem certo.

Definir o amor é complicado. Aliás, amar é complicado. Nós pensamos que entendemos, mas, quando sentimos, percebemos que não é nada daquilo que achávamos. Confundimos amor com amizade, com paixão, não sabemos identificar ou, quando o fazemos, não é correspondido.
Dizem que o difícil sempre nos agrada mais. Vai ver é por isso que procuramos tanto pelo amor verdadeiro, por nossas almas gêmeas. Queremos alguém que cuide de nós, alguém com quem possamos dividir nossas dores e conquistas. Queremos a felicidade prometida.
Nem sempre, porém, temos nosso conto de Cinderela. Ou até temos, mas fantasiamos tanto que, quando ele chega, nos decepciona. Porque o amor é tudo e nada, é alto e baixo, é felicidade e tristeza. Quem não sabe se virar no meio da tempestade, se vê levado por essa correnteza que é amar. E para chegar em terra firme, é preciso colocar toda sua força de vontade nos braços e nadar até lá. Aqueles não aguentam, não chegam nem na praia.
Mas existem também os apressados, que pulam do barco antes dele quebrar e já querem alcançar o chão. Para mim, a graça do amor são todas as suas fases: primeiro vem a paixão, que provoca os fogos de artifício internos, as borboletas no estômago. Depois, o amor em si, o andar de mãos dadas, a troca de carinhos. Após, vem a rotina, o perigo de qualquer relacionamento; os cuidados se tornam obsoletos e as brigas, frequentes. E, por fim, o companheirismo que, hoje em dia, já quase entrou em extinção. Atravessar a rotina até essa fase é o maior desafio da vida. Ainda assim, você pode encontrá-la na maioria dos casais idosos. Os avôs e avós, que se conheceram jovens e, atualmente, comemoram bodas de ouro. Ou até em algumas exceções de adultos, casais que estão entrando na meia idade juntos.
Dizer que estará junto na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza até que a morte os separe é fácil. Difícil mesmo é estar lá sessenta anos depois e cuidar um do outro como prometeu, mesmo que a pessoa desenvolva Alzheimer, sofra um derrame, tenha osteoporose e não possa mais andar ou qualquer outro problema típico da idade. É esse amor que eu desejo ver. Procuro e nunca acho. Pergunto-me até se daqui a alguns anos, quando nossa geração for bem velhinha e não tivermos mais nossos avós como exemplo, ainda o veremos por aí ou terá se tornado um mero conto de historinhas.
Minhas experiências sobre o amor, no entanto, não passam de observações. Para entender a sensação, só mesmo atravessando esse caminho tempestuoso em busca das certezas e incertezas que apenas um coração apaixonado pode dar.